Em 24 de março o governo estadunidense anunciou uma permissão especial que permite a ucranianos em fuga da guerra entrar de forma facilitada no país. Diferença de tratamento é questionada por migrantes latinos, que aguardam por meses na fronteira
Por Amanda Almeida
Após a permissão humanitária especial que permitirá a entrada de até 100.000 ucranianos nos EUA, milhares de migrantes latinos que aguardam na fronteira com o México pedem para serem tratados igual aos ucranianos, que já atravessam em massa a mesma fronteira. “Por que a nós não nos é dada essa oportunidade de buscar asilo? Nós viemos fugindo quase do mesmo”, questiona um mexicano de 44 anos, identificado apenas como L.
Desde o anúncio da permissão, milhares de ucranianos tem chegado de avião ou trem a Tijuana, onde se instalou uma rede de apoio de voluntários ucranianos que auxiliam os recém-chegados. Após aguardarem de dois a três dias, os migrantes atravessam a entrada oeste, destinada apenas aos ucranianos.
Viajando aos milhares, os migrantes latinos pedem a mesma oportunidade e afirmam viver uma situação semelhante à dos imigrantes ucranianos acolhidos pelo governo dos EUA. “Se viemos para cá não é por gosto, é por necessidade. Já vivemos muita violência”, diz a esposa de L. O casal precisou fugir de sua cidade natal com os três filhos após serem ameaçados por membros de um cartel.
“Nós também vivemos fugindo”
Uma mulher, identificada como R., é hondurenha e tem cinco filhos de idades até 9 anos. Ela conta que sua família precisou fugir do país após o marido, que é jornalista, sofrer um atentado em 2014. Após sofrerem um novo atentado na Guatemala, tentaram reconstruir sua vida no México, onde uma inundação destruiu a casa onde viviam, o que os levou a tentar cruzar a fronteira com os EUA.
“Estamos pedindo asilo desde que estávamos na Guatemala, mas passou o tempo e seguimos esperando”, disse a mulher, que complementa que, assim como os ucranianos, “nós vivemos fugindo”. Ela afirma que a situação de sua família e de outras milhares que tentam entrar nos EUA é diferente, mas “é quase uma guerra com as gangues”, o que os impede de voltar.
Guerra na Ucrânia
Desde o início da ofensiva militar russa, em 24 de fevereiro, mais de 4 milhões de ucranianos já deixaram o país buscando asilo em outros países, segundo a agência das Nações Unidas para refugiados (ACNUR). Na quarta-feira, 13, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou a jornalistas que, no momento, não há possibilidade de uma trégua humanitária. “No presente momento, um cessar-fogo global na Ucrânia não parece possível”, disse.
Em 24 de março, um mês após o início da guerra, o governo dos Estados Unidos se comprometeu a receber até 100.000 refugiados ucranianos e de outros países que fugiram dos conflitos na Ucrânia. A prioridade é dada àqueles que já tem parentes nos Estados Unidos, mas qualquer pessoa fugindo dos conflitos no país pode receber a permissão para entrar nos EUA.